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Como Tudo Começou

Colapsos e Desligamentos no Autismo Adulto

  Mulheres Autistas: elas existem e precisam de atenção      As mulheres autistas são normalmente diagnosticadas tardiamente porque sempre mascaram suas características pois pensam que camuflando sua personalidade e dificuldades serão aceitas socialmente.     Minha filha Caroline de 28 anos não é diferente disso. Justamente pelo mascaramento e nas tentativas frustradas de se manter parecida com a maioria, tem crises de meltdown e shutdown constantemente.     Os motivos podem variar, muitas vezes após muitas interações sociais em determinado dia, em algumas horas posteriores a crise de choro vem e as vezes quando é mais grave ela parece desligar do mundo e fica deitada por horas sem fazer nada, quase imóvel e alheia a tudo. Neste momento ela até perde a noção do tempo.      Algumas vezes essas crises podem ser sensoriais, causadas por algum som, luz ou gritos.  Alguns exemplos que ela vivenciou:     Certo dia, quando...

Crises de Autismo Leve

um menino com crise de raiva no autismo
    

Shutdown e meltdown: entenda as crises causadas por sobrecarga no autismo

Crises em Autismo o que são e como ajudar?

No autismo leve, as crises de meltdown ainda podem ocorrer, embora possam se manifestar de maneira diferente ou menos intensa do que em outros níveis do espectro autista. Meltdowns são respostas a situações de sobrecarga sensorial, emocional ou social e podem variar bastante de pessoa para pessoa, independentemente da gravidade do autismo.


Meltdowns no Autismo:

traduções possíveis para "meltdown" incluem:

  • "Descontrole emocional"
  • "Explosão emocional"
  • "Ataque de nervos"
  1. Manifestação de frustração ou ansiedade: Pessoas com autismo leve podem mostrar sinais de frustração, ansiedade ou desconforto antes de um meltdown. Elas podem parecer mais irritáveis, agitadas ou retraídas.
  2. Maior consciência do contexto social: Indivíduos com autismo leve podem ter uma maior compreensão do contexto social ao seu redor e, em alguns casos, tentar suprimir ou controlar o início de um meltdown para evitar constrangimento ou chamar atenção. No entanto, isso pode intensificar o stress interno e levar a um meltdown mais tarde, em um ambiente mais privado ou seguro.
  3. Sintomas menos visíveis: Em alguns casos, o meltdown pode não envolver comportamentos muito visíveis, como gritar ou se debater. Em vez disso, a pessoa pode se retirar, parar de falar, ter um choro silencioso, ou apresentar comportamentos repetitivos ou compulsivos, como balançar o corpo, morder as unhas, ou esfregar as mãos.
  4. Duração e intensidade: Os meltdowns no autismo leve podem ser de curta duração, mas ainda são experiências muito intensas para quem os vivencia. A intensidade emocional interna pode ser alta, mesmo que externamente pareça menos dramática.
  5. Sentimento de culpa ou vergonha após o episódio: Pessoas com autismo leve podem ter consciência de suas crises e sentir vergonha, culpa ou frustração após um meltdown. Isso pode ocorrer porque, devido ao seu nível de compreensão social, elas percebem como suas reações são vistas pelos outros.

Como lidar com Meltdowns no autismo leve:

  1. Reconhecer sinais precoces: Identificar os sinais de que um meltdown pode estar se aproximando pode ajudar a tomar medidas preventivas, como proporcionar um espaço mais calmo ou permitir uma pausa das atividades.
  2. Ensinar estratégias de auto-regulação: Técnicas como respiração profunda, uso de fones de ouvido com cancelamento de ruído, uso de brinquedos sensoriais ou técnicas de mindfulness podem ser eficazes para ajudar a pessoa a se acalmar antes que um meltdown ocorra.
  3. Respeitar a necessidade de espaço: Durante ou após um meltdown, é importante respeitar o espaço da pessoa e dar tempo para que ela se recupere. Forçar interações ou tentativas de acalmá-la rapidamente pode aumentar o estresse.
  4. Desenvolver um plano de crise: Trabalhar com a pessoa para desenvolver um plano de crise que inclua sinais de alerta, estratégias de coping* e passos a seguir pode ser útil para gerenciar e mitigar os efeitos dos meltdowns.
  5. Ser compreensivo e paciente: Entender que meltdowns são respostas involuntárias a sobrecargas sensoriais ou emocionais, e não comportamentos manipulativos, é crucial. Oferecer apoio sem julgamento é essencial.

O que é sobrecarga sensorial no autismo?

É importante lembrar que mesmo em casos de autismo leve, os meltdowns são experiências desafiadoras e esgotantes para a pessoa envolvida. A compreensão, empatia e apoio adequado são fundamentais para ajudar a pessoa a lidar com essas situações.              um menino autista chorando depois de uma crise

Quando meu filho Vitor com 7 anos foi tomar banho com o pai num dia frio, eles começaram a brincar como sempre faziam jogando água um no outro, era água do chuveiro quente, mas dessa vez meu marido pegou um restinho de água de um dia anterior e esta estava gelada e jogou nele mas ele teve uma crise de raiva, o meltdown, começou a gritar e xingar e no mesmo instante empurrou com toda a força o box de vidro contra a parede e espatifou tudo. Fiquei desesperada, não sabia ainda me controlar e vendo ele com alguns cortes no rosto e na barriga, mesmo que de raspão eu me enfureci com meu marido, gritei com ele e tentava a todo custo entender o que tinha acontecido, mas graças a Deus só cortes superficiais. Recolhi tudo muito nervosa e preocupada e ele sempre pedindo "perdão mamãe não queria ter feito isso..."


Crises em autistas: o que são e como ajudar?


  *Estratégias de coping são técnicas e métodos que as pessoas utilizam para lidar com o estresse, ansiedade, emoções intensas ou situações difíceis. Essas estratégias ajudam a gerenciar as emoções e o comportamento diante de desafios, seja em momentos de crise ou no dia a dia.

Tipos de estratégias de coping:

  1. Coping focado no problema: Envolve a tentativa de resolver ou minimizar a fonte do estresse. Exemplos incluem:
    • Planejar ou organizar tarefas para evitar sobrecarga.
    • Buscar informações ou recursos para resolver um problema específico.
    • Tomar medidas concretas para mudar uma situação estressante.
  2. Coping focado na emoção: Focado em gerenciar as emoções associadas ao estresse ou à situação difícil. Exemplos incluem:
    • Praticar técnicas de relaxamento, como respiração profunda ou meditação.
    • Procurar apoio emocional de amigos, familiares ou terapeutas.
    • Redirecionar a atenção para atividades prazerosas ou distrativas.
  3. Coping de evitação: Envolve a tentativa de evitar ou escapar da situação estressante, ao invés de enfrentá-la diretamente. Exemplos incluem:
    • Distrair-se com outras atividades (como assistir a filmes ou jogar).
    • Evitar a situação ou pessoa que causa estresse.
    • Adiar a tomada de decisões difíceis.
  4. Coping proativo: Estratégias usadas antes que o estresse ou problema se desenvolva, com o objetivo de prevenir ou minimizar o impacto. Exemplos incluem:
    • Planejar com antecedência para evitar imprevistos.
    • Desenvolver habilidades ou conhecimentos para enfrentar desafios futuros.
    • Criar rotinas que ajudem a manter a estabilidade emocional.

Exemplos de estratégias de coping comuns:

  • Respiração profunda e meditação: Técnicas que ajudam a acalmar a mente e o corpo, reduzindo a ansiedade e o estresse.
  • Exercícios físicos: Atividades físicas, como caminhar, correr ou praticar ioga, que ajudam a liberar tensões e melhorar o humor.
  • Escrita expressiva: Escrever sobre sentimentos e pensamentos pode ajudar a processar emoções difíceis.
  • Contato social: Conversar com amigos ou familiares pode proporcionar apoio emocional e uma nova perspectiva sobre o problema.
  • Tempo na natureza: Passar tempo ao ar livre pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral.
  • Técnicas de grounding: Focar nos sentidos (como sentir texturas, cheirar aromas ou ouvir sons) para se conectar ao presente e diminuir a ansiedade.

Importância das estratégias de coping:

Essas estratégias são essenciais porque permitem que as pessoas lidem de maneira mais eficaz com situações estressantes, evitando que o estresse se acumule e cause problemas de saúde mental ou física. Aprender e praticar diferentes formas de coping pode ajudar a construir resiliência, melhorando a capacidade de enfrentar desafios no futuro.

Como mãe e percebo que estou extremamente ansiosa  preocupada demais com o Vitor de 10 anos e a Caroline de 28 anos, quando observo que o meu emocional está ficando alterado por tanto estresse procuro fazer alongamentos e exercícios leves, gosto de fazer hidroginástica e se mesmo assim não me sinto melhor seguro alguns cubos de gelo, são ótimos para me tirar dos pensamentos negativos que me rodeiam naquele momento, faz meu cérebro sair da pequena crise que quer se instalar a todo custo. A água por si só é terapêutica e resolvi por isso fazer uma piscina improvisada de baixo custo para que principalmente meus filhos pudessem se autorregular na água. 

Usei uma caixa caixa d'água de 3.000 litros e mandei enterrá-la e coloquei lajotas antiderrapantes para evitar acidentes. O Vitor gosta mais dela do que minha filha Caroline. No verão fica difícil tirá-lo da água, ele adora e vejo que faz muito bem para seu emocional.


cards de regulação emocional com emojis para autistas


Outra maneira que encontrei para que o Vitor se comunicasse melhor sobre seus sentimentos foi através dos cards de regulação emocional para autistas, esses cartões dos sentimentos, foi uma ótima maneira de ajudá-lo a se conhecer e compreender melhor seus sentimentos e regulá-los.

Como é a crise de autismo nível 1?

Cada pessoa pode encontrar estratégias de coping que funcionam melhor para ela, e o que é eficaz em uma situação pode não ser em outra. Por isso, é útil conhecer e experimentar diferentes técnicas para descobrir o que funciona melhor em cada contexto.


Mas afinal, o que significa shutdown no autismo?

A tradução é: suspender o funcionamento.


A crise de shutdown no autismo leve é uma resposta intensa a sobrecarga sensorial, emocional ou social. Diferente do meltdown, que é uma explosão de emoções ou comportamentos, o shutdown é mais caracterizado por uma retirada ou "desligamento" da interação com o ambiente externo. No autismo leve, o shutdown pode se manifestar de maneira menos óbvia, mas ainda assim pode ser uma experiência muito intensa e desgastante para a pessoa.

Características do shutdown no autismo leve:

  1. Retração ou isolamento: A pessoa pode se tornar repentinamente silenciosa, parar de falar ou responder, e se retirar do convívio social. Ela pode querer ficar sozinha, em um espaço seguro ou familiar.
  2. Diminuição da capacidade de processamento: Durante um shutdown, a pessoa pode ter dificuldade em processar informações ou estímulos, como sons, luzes ou conversas. Pode parecer "desligada" ou não estar presente, pois o cérebro está tentando lidar com a sobrecarga reduzindo a atividade externa.
  3. Redução na comunicação verbal: Muitas pessoas com autismo leve em um estado de shutdown podem ter dificuldade para falar ou comunicar suas necessidades. Elas podem preferir a comunicação não verbal ou optar por não falar de forma alguma durante o episódio.
  4. Fadiga extrema: Após um período de sobrecarga, a pessoa pode sentir uma necessidade avassaladora de descanso ou sono. Um shutdown pode ser uma forma do corpo e da mente se protegerem de estímulos adicionais.
  5. Comportamento passivo: Em contraste com o meltdown, onde há uma liberação ativa de emoções, o shutdown é mais passivo. A pessoa pode simplesmente se sentar, olhar fixamente para o nada, ou se deitar, sem exibir reações emotivas claras.


Causas comuns de shutdown no autismo leve:

  • Sobrecarga sensorial: Exposição prolongada a ambientes ruidosos, luzes intensas, ou outras fontes de estímulos sensoriais que a pessoa considera esmagadora.
  • Estresse emocional: Situações de conflito, frustrações ou expectativas sociais que geram ansiedade podem levar a um estado de shutdown como mecanismo de defesa.
  • Exaustão mental: Demandas cognitivas altas, como multitarefa ou enfrentar situações sociais complexas, podem esgotar a capacidade de uma pessoa de continuar interagindo com o ambiente.
  • Mudanças inesperadas: Alterações na rotina ou eventos imprevistos podem ser desorientadores e desencadear um shutdown.

Como lidar com shutdowns no autismo leve:

  1. Oferecer um ambiente tranquilo: Permitir que a pessoa tenha acesso a um espaço calmo e familiar, onde possa se sentir segura e longe de estímulos excessivos.
  2. Dar tempo e espaço: É importante não pressionar a pessoa para se comunicar ou interagir durante um shutdown. Permitir que ela tenha o tempo necessário para se recuperar.
  3. Comunicação não verbal: Utilizar gestos simples, expressões faciais tranquilizadoras, ou simplesmente estar presente de maneira calmante pode ser mais útil do que tentar forçar uma conversa.
  4. Prevenir situações de sobrecarga: Identificar os gatilhos comuns para shutdowns e trabalhar para evitar ou minimizar a exposição a esses gatilhos pode ser uma estratégia eficaz.
  5. Técnicas de relaxamento: Técnicas como respiração profunda, mindfulness, ou meditação guiada podem ajudar a pessoa a se recuperar de um shutdown quando estiver pronta para começar a se engajar novamente.
  6. Preparar para mudanças: Antecipar e preparar a pessoa para mudanças ou situações potencialmente estressantes pode ajudar a reduzir a ansiedade e a chance de shutdown.


Meu filho em especial sempre teve alguns desligamentos, mas confesso que não tinha ideia de que seria devido ao shutdown, me lembro bem quando fomos tirar o pino após a cirurgia do braço quebrado ele desligou, ficou totalmente imóvel e sem falar, nem piscava, lembro que chamamos ele pelo nome várias vezes mas ele parecia não estar ali. Hoje entendo perfeitamente que o medo, a dor e a ansiedade da situação o levaram ao shutdown, mais uma vez fique assustada e muito estressada.

É essencial entender que os shutdowns, assim como os meltdowns, não são comportamentos intencionais ou manipulativos, mas sim respostas automáticas a uma sobrecarga de estímulos ou emoções. A paciência, compreensão e apoio são fundamentais para ajudar a pessoa a navegar por esses momentos de forma segura e confortável.

Como mães precisamos estar sempre disponíveis a acolher nos momentos de crises pois somos certamente as que mais compreendemos e as que mais eles procuram nesses momentos tão difíceis para eles, por isso sempre recomendo para nós, boas horas de sono, exercícios, psicóloga e cuidados com a autoestima, do contrário não teremos o equilíbrio necessários para ajudá-los.


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