Shutdown e meltdown: entenda as crises causadas por sobrecarga no autismo
Crises em Autismo o que são e como ajudar?
No
autismo leve, as crises de meltdown ainda podem ocorrer, embora possam se
manifestar de maneira diferente ou menos intensa do que em outros níveis do
espectro autista. Meltdowns são respostas a situações de sobrecarga sensorial,
emocional ou social e podem variar bastante de pessoa para pessoa,
independentemente da gravidade do autismo.
Meltdowns no Autismo:
traduções possíveis para "meltdown" incluem:
- "Descontrole emocional"
- "Explosão emocional"
- "Ataque de nervos"
- Manifestação de frustração
ou ansiedade:
Pessoas com autismo leve podem mostrar sinais de frustração, ansiedade ou
desconforto antes de um meltdown. Elas podem parecer mais irritáveis,
agitadas ou retraídas.
- Maior consciência do
contexto social:
Indivíduos com autismo leve podem ter uma maior compreensão do contexto
social ao seu redor e, em alguns casos, tentar suprimir ou controlar o
início de um meltdown para evitar constrangimento ou chamar atenção. No
entanto, isso pode intensificar o stress interno e levar a um meltdown
mais tarde, em um ambiente mais privado ou seguro.
- Sintomas menos visíveis: Em alguns casos, o
meltdown pode não envolver comportamentos muito visíveis, como gritar ou
se debater. Em vez disso, a pessoa pode se retirar, parar de falar, ter um
choro silencioso, ou apresentar comportamentos repetitivos ou compulsivos,
como balançar o corpo, morder as unhas, ou esfregar as mãos.
- Duração e intensidade: Os meltdowns no autismo
leve podem ser de curta duração, mas ainda são experiências muito intensas
para quem os vivencia. A intensidade emocional interna pode ser alta,
mesmo que externamente pareça menos dramática.
- Sentimento de culpa ou
vergonha após o episódio: Pessoas com autismo leve podem ter
consciência de suas crises e sentir vergonha, culpa ou frustração após um
meltdown. Isso pode ocorrer porque, devido ao seu nível de compreensão
social, elas percebem como suas reações são vistas pelos outros.
Como lidar com Meltdowns no autismo leve:
- Reconhecer sinais precoces: Identificar os sinais de
que um meltdown pode estar se aproximando pode ajudar a tomar medidas
preventivas, como proporcionar um espaço mais calmo ou permitir uma pausa
das atividades.
- Ensinar estratégias de
auto-regulação:
Técnicas como respiração profunda, uso de fones de ouvido com cancelamento
de ruído, uso de brinquedos sensoriais ou técnicas de mindfulness podem
ser eficazes para ajudar a pessoa a se acalmar antes que um meltdown
ocorra.
- Respeitar a necessidade de
espaço:
Durante ou após um meltdown, é importante respeitar o espaço da pessoa e
dar tempo para que ela se recupere. Forçar interações ou tentativas de
acalmá-la rapidamente pode aumentar o estresse.
- Desenvolver um plano de
crise:
Trabalhar com a pessoa para desenvolver um plano de crise que inclua
sinais de alerta, estratégias de coping* e passos a seguir pode ser útil
para gerenciar e mitigar os efeitos dos meltdowns.
- Ser compreensivo e paciente: Entender que meltdowns são respostas involuntárias a sobrecargas sensoriais ou emocionais, e não comportamentos manipulativos, é crucial. Oferecer apoio sem julgamento é essencial.
O que é sobrecarga sensorial no autismo?
É importante lembrar que mesmo em casos de autismo leve, os meltdowns são experiências desafiadoras e esgotantes para a pessoa envolvida. A compreensão, empatia e apoio adequado são fundamentais para ajudar a pessoa a lidar com essas situações.
Quando meu filho Vitor com 7 anos foi tomar banho com o pai num dia frio, eles começaram a brincar como sempre faziam jogando água um no outro, era água do chuveiro quente, mas dessa vez meu marido pegou um restinho de água de um dia anterior e esta estava gelada e jogou nele mas ele teve uma crise de raiva, o meltdown, começou a gritar e xingar e no mesmo instante empurrou com toda a força o box de vidro contra a parede e espatifou tudo. Fiquei desesperada, não sabia ainda me controlar e vendo ele com alguns cortes no rosto e na barriga, mesmo que de raspão eu me enfureci com meu marido, gritei com ele e tentava a todo custo entender o que tinha acontecido, mas graças a Deus só cortes superficiais. Recolhi tudo muito nervosa e preocupada e ele sempre pedindo "perdão mamãe não queria ter feito isso..."
Crises em autistas: o que são e como ajudar?
*Estratégias de coping são técnicas e métodos que as pessoas utilizam para lidar com o estresse, ansiedade, emoções intensas ou situações difíceis. Essas estratégias ajudam a gerenciar as emoções e o comportamento diante de desafios, seja em momentos de crise ou no dia a dia.
Tipos de estratégias de coping:
- Coping focado no problema: Envolve a tentativa de
resolver ou minimizar a fonte do estresse. Exemplos incluem:
- Planejar ou organizar
tarefas para evitar sobrecarga.
- Buscar informações ou recursos
para resolver um problema específico.
- Tomar medidas concretas
para mudar uma situação estressante.
- Coping focado na emoção: Focado em gerenciar as
emoções associadas ao estresse ou à situação difícil. Exemplos incluem:
- Praticar técnicas de
relaxamento, como respiração profunda ou meditação.
- Procurar apoio emocional de
amigos, familiares ou terapeutas.
- Redirecionar a atenção para
atividades prazerosas ou distrativas.
- Coping de evitação: Envolve a tentativa de
evitar ou escapar da situação estressante, ao invés de enfrentá-la
diretamente. Exemplos incluem:
- Distrair-se com outras
atividades (como assistir a filmes ou jogar).
- Evitar a situação ou pessoa
que causa estresse.
- Adiar a tomada de decisões
difíceis.
- Coping proativo: Estratégias usadas antes
que o estresse ou problema se desenvolva, com o objetivo de prevenir ou
minimizar o impacto. Exemplos incluem:
- Planejar com antecedência
para evitar imprevistos.
- Desenvolver habilidades ou
conhecimentos para enfrentar desafios futuros.
- Criar rotinas que ajudem a
manter a estabilidade emocional.
Exemplos de estratégias de coping comuns:
- Respiração profunda e
meditação:
Técnicas que ajudam a acalmar a mente e o corpo, reduzindo a ansiedade e o
estresse.
- Exercícios físicos: Atividades físicas, como
caminhar, correr ou praticar ioga, que ajudam a liberar tensões e melhorar
o humor.
- Escrita expressiva: Escrever sobre sentimentos
e pensamentos pode ajudar a processar emoções difíceis.
- Contato social: Conversar com amigos ou
familiares pode proporcionar apoio emocional e uma nova perspectiva sobre
o problema.
- Tempo na natureza: Passar tempo ao ar livre
pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral.
- Técnicas de grounding: Focar nos sentidos (como
sentir texturas, cheirar aromas ou ouvir sons) para se conectar ao
presente e diminuir a ansiedade.
Importância das estratégias de coping:
Essas
estratégias são essenciais porque permitem que as pessoas lidem de maneira mais
eficaz com situações estressantes, evitando que o estresse se acumule e cause
problemas de saúde mental ou física. Aprender e praticar diferentes formas de
coping pode ajudar a construir resiliência, melhorando a capacidade de
enfrentar desafios no futuro.
Como mãe e percebo que estou extremamente ansiosa preocupada demais com o Vitor de 10 anos e a Caroline de 28 anos, quando observo que o meu emocional está ficando alterado por tanto estresse procuro fazer alongamentos e exercícios leves, gosto de fazer hidroginástica e se mesmo assim não me sinto melhor seguro alguns cubos de gelo, são ótimos para me tirar dos pensamentos negativos que me rodeiam naquele momento, faz meu cérebro sair da pequena crise que quer se instalar a todo custo. A água por si só é terapêutica e resolvi por isso fazer uma piscina improvisada de baixo custo para que principalmente meus filhos pudessem se autorregular na água.
Usei uma caixa caixa d'água de 3.000 litros e mandei enterrá-la e coloquei lajotas antiderrapantes para evitar acidentes. O Vitor gosta mais dela do que minha filha Caroline. No verão fica difícil tirá-lo da água, ele adora e vejo que faz muito bem para seu emocional.
Outra maneira que encontrei para que o Vitor se comunicasse melhor sobre seus sentimentos foi através dos cards de regulação emocional para autistas, esses cartões dos sentimentos, foi uma ótima maneira de ajudá-lo a se conhecer e compreender melhor seus sentimentos e regulá-los.
Como é a crise de autismo nível 1?
Cada
pessoa pode encontrar estratégias de coping que funcionam melhor para ela, e o
que é eficaz em uma situação pode não ser em outra. Por isso, é útil conhecer e
experimentar diferentes técnicas para descobrir o que funciona melhor em cada
contexto.
Mas afinal, o que significa shutdown no autismo?
A tradução é: suspender o funcionamento.
A crise
de shutdown no autismo leve é uma resposta intensa a sobrecarga sensorial,
emocional ou social. Diferente do meltdown, que é uma explosão de
emoções ou comportamentos, o shutdown é mais caracterizado por uma
retirada ou "desligamento" da interação com o ambiente externo. No
autismo leve, o shutdown pode se manifestar de maneira menos óbvia, mas ainda
assim pode ser uma experiência muito intensa e desgastante para a pessoa.
Características do shutdown no autismo leve:
- Retração ou isolamento: A pessoa pode se tornar
repentinamente silenciosa, parar de falar ou responder, e se retirar do
convívio social. Ela pode querer ficar sozinha, em um espaço seguro ou
familiar.
- Diminuição da capacidade de
processamento:
Durante um shutdown, a pessoa pode ter dificuldade em processar
informações ou estímulos, como sons, luzes ou conversas. Pode parecer
"desligada" ou não estar presente, pois o cérebro está tentando
lidar com a sobrecarga reduzindo a atividade externa.
- Redução na comunicação
verbal:
Muitas pessoas com autismo leve em um estado de shutdown podem ter
dificuldade para falar ou comunicar suas necessidades. Elas podem preferir
a comunicação não verbal ou optar por não falar de forma alguma durante o
episódio.
- Fadiga extrema: Após um período de
sobrecarga, a pessoa pode sentir uma necessidade avassaladora de descanso
ou sono. Um shutdown pode ser uma forma do corpo e da mente se protegerem
de estímulos adicionais.
- Comportamento passivo: Em contraste com o
meltdown, onde há uma liberação ativa de emoções, o shutdown é mais
passivo. A pessoa pode simplesmente se sentar, olhar fixamente para o
nada, ou se deitar, sem exibir reações emotivas claras.
Causas comuns de shutdown no autismo leve:
- Sobrecarga sensorial: Exposição prolongada a
ambientes ruidosos, luzes intensas, ou outras fontes de estímulos
sensoriais que a pessoa considera esmagadora.
- Estresse emocional: Situações de conflito,
frustrações ou expectativas sociais que geram ansiedade podem levar a um
estado de shutdown como mecanismo de defesa.
- Exaustão mental: Demandas cognitivas altas,
como multitarefa ou enfrentar situações sociais complexas, podem esgotar a
capacidade de uma pessoa de continuar interagindo com o ambiente.
- Mudanças inesperadas: Alterações na rotina ou
eventos imprevistos podem ser desorientadores e desencadear um shutdown.
Como lidar com shutdowns no autismo leve:
- Oferecer um ambiente
tranquilo:
Permitir que a pessoa tenha acesso a um espaço calmo e familiar, onde
possa se sentir segura e longe de estímulos excessivos.
- Dar tempo e espaço: É importante não
pressionar a pessoa para se comunicar ou interagir durante um shutdown.
Permitir que ela tenha o tempo necessário para se recuperar.
- Comunicação não verbal: Utilizar gestos simples,
expressões faciais tranquilizadoras, ou simplesmente estar presente de
maneira calmante pode ser mais útil do que tentar forçar uma conversa.
- Prevenir situações de
sobrecarga:
Identificar os gatilhos comuns para shutdowns e trabalhar para evitar ou
minimizar a exposição a esses gatilhos pode ser uma estratégia eficaz.
- Técnicas de relaxamento: Técnicas como respiração
profunda, mindfulness, ou meditação guiada podem ajudar a pessoa a se
recuperar de um shutdown quando estiver pronta para começar a se engajar
novamente.
- Preparar para mudanças: Antecipar e preparar a
pessoa para mudanças ou situações potencialmente estressantes pode ajudar
a reduzir a ansiedade e a chance de shutdown.
Meu filho em especial sempre teve alguns desligamentos, mas confesso que não tinha ideia de que seria devido ao shutdown, me lembro bem quando fomos tirar o pino após a cirurgia do braço quebrado ele desligou, ficou totalmente imóvel e sem falar, nem piscava, lembro que chamamos ele pelo nome várias vezes mas ele parecia não estar ali. Hoje entendo perfeitamente que o medo, a dor e a ansiedade da situação o levaram ao shutdown, mais uma vez fique assustada e muito estressada.
É
essencial entender que os shutdowns, assim como os meltdowns, não são comportamentos
intencionais ou manipulativos, mas sim respostas automáticas a uma sobrecarga
de estímulos ou emoções. A paciência, compreensão e apoio são fundamentais para
ajudar a pessoa a navegar por esses momentos de forma segura e confortável.
Como mães precisamos estar sempre disponíveis a acolher nos momentos de crises pois somos certamente as que mais compreendemos e as que mais eles procuram nesses momentos tão difíceis para eles, por isso sempre recomendo para nós, boas horas de sono, exercícios, psicóloga e cuidados com a autoestima, do contrário não teremos o equilíbrio necessários para ajudá-los.
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