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Como Tudo Começou

Colapsos e Desligamentos no Autismo Adulto

  Mulheres Autistas: elas existem e precisam de atenção      As mulheres autistas são normalmente diagnosticadas tardiamente porque sempre mascaram suas características pois pensam que camuflando sua personalidade e dificuldades serão aceitas socialmente.     Minha filha Caroline de 28 anos não é diferente disso. Justamente pelo mascaramento e nas tentativas frustradas de se manter parecida com a maioria, tem crises de meltdown e shutdown constantemente.     Os motivos podem variar, muitas vezes após muitas interações sociais em determinado dia, em algumas horas posteriores a crise de choro vem e as vezes quando é mais grave ela parece desligar do mundo e fica deitada por horas sem fazer nada, quase imóvel e alheia a tudo. Neste momento ela até perde a noção do tempo.      Algumas vezes essas crises podem ser sensoriais, causadas por algum som, luz ou gritos.  Alguns exemplos que ela vivenciou:     Certo dia, quando...

Colapsos e Desligamentos no Autismo Adulto

 


uma mulher autista chorando sobrecarregada


Mulheres Autistas: elas existem e precisam de atenção

    As mulheres autistas são normalmente diagnosticadas tardiamente porque sempre mascaram suas características pois pensam que camuflando sua personalidade e dificuldades serão aceitas socialmente.
    Minha filha Caroline de 28 anos não é diferente disso. Justamente pelo mascaramento e nas tentativas frustradas de se manter parecida com a maioria, tem crises de meltdown e shutdown constantemente.
    Os motivos podem variar, muitas vezes após muitas interações sociais em determinado dia, em algumas horas posteriores a crise de choro vem e as vezes quando é mais grave ela parece desligar do mundo e fica deitada por horas sem fazer nada, quase imóvel e alheia a tudo. Neste momento ela até perde a noção do tempo. 
    Algumas vezes essas crises podem ser sensoriais, causadas por algum som, luz ou gritos. 

Alguns exemplos que ela vivenciou:

    Certo dia, quando estava trabalhando na biblioteca do Cesumar, estava organizando os livros e sentiu que algo a estava incomodando, começou a sentir tontura e enjôo mas não sabia o que era ao certo. Teve que sentar um pouco e de repente já estava agitada andando para lá e para cá, entrou em uma crise de ansiedade e pior, neste momento ela não consegue explicar o que está acontecendo, tamanho desconforto e agitação que se encontra. Ficou deitada por mais de uma hora e só quando chegou em casa que analisamos e chegamos a conclusão que era o ar condicionado da biblioteca que era antigo e barulhento.

      Numa certa manhã tínhamos tomado todo o café e quando ela foi tomar e viu que estava vazia a cafeteira teve uma crise de meltdown e quebrou com fúria a cafeteira na pia, todos nós nos assustamos e não compreendemos nada naquele momento. Mais tarde lembramos que ela tinha saído no dia anterior com os amigos e essa interação lhe causou uma grande exaustão devido a muitos maskings e quando acordou ainda se sentia sobrecarregada e não sabia e isso foi somente um gatilho para que o colapso se tornasse externalizado.

Mascaramento (ou masking em inglês) é o termo usado para descrever o comportamento de pessoas autistas que tentam ocultar ou minimizar suas características autísticas para se ajustarem às normas sociais. Esse processo de camuflagem pode incluir suprimir estereotipias (movimentos repetitivos), forçar contato visual, ou imitar expressões faciais e comportamentos de pessoas neurotípicas (pessoas não autistas).

Por Que o Mascaramento Acontece?

O mascaramento geralmente ocorre porque pessoas autistas percebem, desde muito jovens, que seu comportamento natural é visto como "diferente" ou "inadequado" pela sociedade. Para evitar discriminação, bullying, ou rejeição social, elas podem aprender a mascarar suas características autísticas.

Para muitas mulheres autistas, o mascaramento é particularmente comum devido às pressões sociais para "se ajustar" e à tendência de desenvolver habilidades sociais que facilitam a camuflagem. Como resultado, o autismo em mulheres muitas vezes é subdiagnosticado ou diagnosticado mais tarde na vida e foi exatamente isso que ocorreu, minha filha foi diagnosticada com autismo - antigo Asperger - somente com 26 anos.

Consequências do Mascaramento

Embora o mascaramento possa ajudar a pessoa autista a evitar julgamentos sociais e se encaixar melhor em certos ambientes, ele pode ter consequências emocionais e psicológicas significativas:

1.      Esgotamento (Burnout): O esforço contínuo de mascarar comportamentos autísticos pode levar ao esgotamento emocional e mental. Esse esgotamento pode se manifestar como fadiga intensa, depressão, ansiedade, ou até mesmo um colapso emocional.

2.      Perda de Identidade: O mascaramento pode fazer com que uma pessoa se sinta desconectada de sua verdadeira identidade, o que pode levar a sentimentos de alienação e confusão sobre quem realmente é.

3.      Problemas de Saúde Mental: A prática prolongada de mascaramento tem sido associada a um aumento na incidência de depressão, ansiedade, e outros problemas de saúde mental devido ao estresse constante de manter uma "máscara" social.

4.      Diagnóstico Tardio ou Falho: Muitas vezes, o mascaramento pode levar ao subdiagnóstico ou a diagnósticos errôneos de autismo, especialmente em mulheres, porque suas características autísticas podem ser menos visíveis.

 

    Eu tinha percebido que o fato dela trabalhar 8 horas por dia e com muitas interações sociais não seria bom para ela mas ela queria se autotestar e chegou a pedir a psiquiatra que lhe receitasse remédios fortíssimos (não adiantaram nada) para se manter acordada e proeficiente pois ia ao trabalho se arrastando, literalmente.  Nos finais de semana dormia o tempo tempo e quando chegava segunda-feira entrava em crise de shultdown e meltdown de tanta ansiedade pelo que iria enfrentar a semana inteira. Sentia tristeza de vê-la assim, ela aguentou 5 meses e foi mandada embora, o que lhe causou muita tristeza e decepção, pois se esforçou ao máximo para conseguir. Guardava tudo no meu coração...


Sinais de Que Uma Mulher Autista Adulta Está Mascarando

  1. Exaustão Social Aparente: Uma mulher autista que está mascarando pode parecer exausta após interações sociais. Essa exaustão não é apenas física, mas também emocional e mental, decorrente do esforço de se ajustar constantemente às expectativas sociais.
  2. Mudanças na Linguagem Corporal: Preste atenção em mudanças súbitas na postura, no contato visual ou nos padrões de fala. Quando mascarando, uma mulher autista pode forçar contato visual ou adotar expressões faciais e gestos que não vêm naturalmente, o que pode parecer forçado ou desconfortável.
  3. Respostas Excessivamente Ensaiadas: Quando uma mulher autista está mascarando, suas respostas em conversas podem parecer excessivamente polidas ou ensaiadas. Ela pode usar frases que aprendeu serem socialmente aceitáveis, em vez de expressar seus verdadeiros sentimentos ou pensamentos.
  4. Evitação de Situações que Exigem Vulnerabilidade: O mascaramento frequentemente envolve evitar situações que poderiam expor suas características autistas. Ela pode evitar pedir ajuda, expressar desconforto ou discordar, mesmo quando essas ações seriam apropriadas.
  5. Dificuldades para Relaxar em Ambientes Informais: Em um ambiente social mais descontraído, como uma reunião de amigos próximos ou uma festa familiar, a mulher autista pode continuar exibindo um comportamento socialmente “adequado” em vez de relaxar, o que indica um mascaramento persistente.
  6. Perfeccionismo Social: Um desejo intenso de evitar erros sociais pode ser um sinal de mascaramento. A mulher autista pode se preocupar excessivamente com a forma como é percebida pelos outros e fazer um esforço consciente para agir “corretamente” o tempo todo.
  7. Recuperação Lenta Após Eventos Sociais: Se sua filha parece precisar de um tempo de recuperação maior após eventos sociais, ou se ela parece mais retraída e cansada depois de um período de socialização, isso pode indicar que ela esteve mascarando e agora está lidando com o desgaste.

Como Apoiar uma Mulher Autista que Está Mascarando

  1. Crie um Ambiente Seguro e Acolhedor: Assegure-se de que ela sinta que pode ser ela mesma sem medo de julgamento ou repreensão. Encoraje a expressão de suas verdadeiras emoções e pensamentos.
  2. Incentive o Autoconhecimento: Ajude sua filha a reconhecer e entender suas próprias necessidades e limites. Encoraje práticas de autoaceitação e a valorização de sua verdadeira identidade autista.
  3. Respeite os Limites Dela: Quando perceber sinais de esgotamento, respeite o espaço e o tempo que ela precisa para se recuperar. Evite forçar interações sociais ou expectativas que possam ser cansativas.
  4. Seja uma Aliada em Público e em Particular: Apoie-a em contextos sociais e ajude a aliviar a pressão social, seja assumindo conversas, mudando de assunto ou ajudando a mediar interações quando necessário.
  5. Busque Suporte Profissional: Considere trabalhar com profissionais de saúde mental que tenham experiência com autismo em mulheres. Eles podem oferecer estratégias personalizadas para lidar com o mascaramento e suas consequências.

Reconhecer o mascaramento em mulheres autistas adultas é fundamental para oferecer um suporte adequado e ajudar a construir um ambiente no qual elas se sintam confortáveis sendo elas mesmas. Entender esses sinais e responder de maneira empática e informada pode ajudar a aliviar a pressão do mascaramento e promover um bem-estar emocional mais equilibrado e sustentável.

O que fazer quando um autista está em Shutdown?


uma mulher autista mascarando com uma expressão facial



Direcionamento Terapêutico para Ajudar Mulheres Autistas com Transtornos e Sobrecargas Emocionais

O apoio terapêutico para mulheres autistas deve ser cuidadosamente adaptado às suas necessidades individuais, especialmente quando se trata de lidar com transtornos e sobrecargas emocionais. O autismo em mulheres frequentemente se manifesta de maneira diferente do que em homens, o que significa que as abordagens tradicionais podem não ser eficazes. Abaixo estão algumas diretrizes que terapeutas podem seguir para ajudar mulheres autistas a gerenciar suas emoções e evitar o esgotamento.

1. Compreensão e Validação das Experiências Únicas

  • Validar suas Experiências: Reconheça que mascarar emoções e características autistas é uma experiência comum que pode levar a um cansaço emocional significativo.
  • Ouvir Ativamente: Ofereça um espaço seguro onde as mulheres possam falar abertamente sobre suas experiências sem medo de julgamento.

2. Educação e Consciência sobre Sobrecargas Sensoriais e Emocionais

Muitas mulheres autistas experimentam sobrecargas sensoriais e emocionais que podem desencadear meltdowns (explosões emocionais) ou shutdowns (fechamento emocional). É importante que os terapeutas ajudem as pacientes a:

  • Identificar Gatilhos: Trabalhar com elas para identificar gatilhos sensoriais ou emocionais que causam sobrecarga.
  • Criar Estratégias de Gestão: Desenvolver estratégias específicas para lidar com esses gatilhos, como técnicas de respiração profunda, pausas sensoriais, ou o uso de fones de ouvido com cancelamento de ruído.

3. Desenvolvimento de Estratégias de Regulação Emocional

A regulação emocional é uma habilidade crítica que muitas mulheres autistas precisam desenvolver para lidar com sobrecargas. Terapeutas podem:

  • Ensinar Técnicas de Atenção Plena (Mindfulness): Práticas como meditação, respiração consciente e o uso de ancoragem sensorial (como segurar um objeto com textura calmante) podem ajudar a reduzir a ansiedade e a aumentar a consciência emocional.
  • Introduzir Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC): Abordagens de TCC podem ajudar a desafiar pensamentos negativos e desenvolver formas mais saudáveis de responder a situações estressantes.

4. Apoio na Expressão Autêntica de Emoções

  • Incentivar a Autoaceitação: Trabalhar para aumentar a aceitação de suas características autistas e de suas emoções, promovendo um sentimento de valor próprio.
  • Modelar e Praticar a Expressão Emocional: Fornecer um ambiente seguro onde as pacientes possam praticar a expressão de suas emoções de maneira saudável, seja através da comunicação verbal ou de outras formas criativas.

5. Apoio para Construir Autodefesa e Estabelecer Limites

Aprender a estabelecer limites é crucial para evitar o esgotamento. O terapeuta deve:

  • Ensinar a Autodefesa: Trabalhar com a paciente para desenvolver habilidades de autodefesa, ensinando como dizer "não" e como se comunicar assertivamente.
  • Praticar Cenários de Estabelecimento de Limites: Usar role-playing ou cenários simulados para ajudar a paciente a praticar a comunicação de seus limites em diferentes contextos.

6. Identificação de Recursos e Redes de Apoio

  • Facilitar Grupos de Apoio: Conectar pacientes com grupos de apoio ou comunidades online de outras mulheres autistas para compartilhar experiências e estratégias.
  • Fornecer Recursos Educacionais: Oferecer materiais educacionais sobre autismo em mulheres para que as pacientes e suas famílias possam aprender mais sobre suas necessidades únicas.

7. Foco na Autoestima e na Construção de uma Identidade Positiva

Muitas mulheres autistas podem lutar com questões de autoestima devido a anos de tentativas de se adequar às normas sociais. É importante que os terapeutas:

  • Promovam o Autoconhecimento Positivo: Ajudar as pacientes a reconhecer suas forças e talentos, e como o autismo faz parte de sua identidade de maneira positiva.
  • Desenvolvam Habilidades de Resiliência: Ensinar técnicas para lidar com rejeição social ou desafios de comunicação de maneira saudável, aumentando sua resiliência emocional.


O suporte terapêutico para mulheres autistas requer uma abordagem sensível e personalizada, que reconheça as nuances e particularidades de suas experiências. Ao focar em validação, educação, estratégias de regulação emocional, autoexpressão autêntica, estabelecimento de limites, e fortalecimento da autoestima, terapeutas podem ajudar suas pacientes a navegar suas vidas com mais confiança, resiliência e bem-estar emocional.


Role-playing (ou interpretação de papéis, em português) é uma técnica usada em terapia e outras práticas de desenvolvimento pessoal onde os participantes assumem papéis específicos em cenários simulados. Essa técnica permite que as pessoas pratiquem habilidades de comunicação, resolução de problemas, e manejo de situações desafiadoras em um ambiente seguro e controlado.

Como Funciona o Role-Playing?

Durante uma sessão de role-playing, o terapeuta e a paciente criam um cenário baseado em uma situação da vida real que o cliente deseja explorar ou para a qual quer se preparar. Cada pessoa assume um papel: a paciente pode desempenhar a si mesma ou outra pessoa, enquanto o terapeuta ou um parceiro desempenha o papel de outra pessoa envolvida na situação.

Por exemplo, no contexto de terapia para uma mulher autista, o role-playing poderia ser usado para:

  • Praticar Estabelecimento de Limites: O cliente pode praticar como dizer "não" de maneira assertiva quando alguém está fazendo uma exigência irracional ou invadindo seu espaço pessoal.
  • Ensaio de Conversas Difíceis: O cliente pode simular uma conversa difícil, como pedir uma acomodação no trabalho ou explicar suas necessidades sensoriais para amigos e familiares.
  • Exploração de Respostas Emocionais: O cliente pode experimentar diferentes maneiras de expressar suas emoções em uma situação de conflito, recebendo feedback imediato do terapeuta.

Benefícios do Role-Playing

  1. Construção de Confiança: Ao praticar diferentes cenários, as autistas podem se sentir mais seguras e preparadas para lidar com situações reais.
  2. Feedback Imediato: O terapeuta pode fornecer feedback construtivo em tempo real, ajudando a paciente a ajustar suas abordagens e técnicas.
  3. Desenvolvimento de Habilidades Sociais: Para pessoas autistas, praticar habilidades sociais em um ambiente controlado pode ser particularmente útil para melhorar a comunicação e a assertividade.
  4. Redução de Ansiedade: Ao ensaiar situações desafiadoras, as autistas podem reduzir a ansiedade associada a eventos desconhecidos ou estressantes.

O role-playing é uma ferramenta terapêutica poderosa que pode ajudar mulheres autistas a desenvolver habilidades sociais, praticar o estabelecimento de limites e se preparar para situações emocionais desafiadoras. Com a prática regular em um ambiente seguro, elas podem ganhar confiança e habilidades para lidar com uma variedade de desafios no mundo real e diminuir as crises de meltdown e shutdown.

    



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