Mascaramento (ou masking em inglês) é o termo
usado para descrever o comportamento de pessoas autistas que tentam ocultar ou
minimizar suas características autísticas para se ajustarem às normas sociais.
Esse processo de camuflagem pode incluir suprimir estereotipias (movimentos
repetitivos), forçar contato visual, ou imitar expressões faciais e
comportamentos de pessoas neurotípicas (pessoas não autistas).
Por Que o Mascaramento Acontece?
O mascaramento geralmente ocorre porque pessoas autistas percebem, desde
muito jovens, que seu comportamento natural é visto como "diferente"
ou "inadequado" pela sociedade. Para evitar discriminação, bullying,
ou rejeição social, elas podem aprender a mascarar suas características
autísticas.
Para muitas mulheres autistas, o mascaramento é particularmente comum devido às pressões sociais para "se ajustar" e à tendência de desenvolver habilidades sociais que facilitam a camuflagem. Como resultado, o autismo em mulheres muitas vezes é subdiagnosticado ou diagnosticado mais tarde na vida e foi exatamente isso que ocorreu, minha filha foi diagnosticada com autismo - antigo Asperger - somente com 26 anos.
Consequências do Mascaramento
Embora o mascaramento possa ajudar a pessoa autista a evitar julgamentos
sociais e se encaixar melhor em certos ambientes, ele pode ter consequências
emocionais e psicológicas significativas:
1. Esgotamento
(Burnout): O esforço contínuo de mascarar comportamentos autísticos
pode levar ao esgotamento emocional e mental. Esse esgotamento pode se
manifestar como fadiga intensa, depressão, ansiedade, ou até mesmo um colapso
emocional.
2. Perda
de Identidade: O mascaramento pode fazer com que uma pessoa se sinta
desconectada de sua verdadeira identidade, o que pode levar a sentimentos de
alienação e confusão sobre quem realmente é.
3. Problemas
de Saúde Mental: A prática prolongada de mascaramento tem sido
associada a um aumento na incidência de depressão, ansiedade, e outros
problemas de saúde mental devido ao estresse constante de manter uma
"máscara" social.
4. Diagnóstico
Tardio ou Falho: Muitas vezes, o mascaramento pode levar ao
subdiagnóstico ou a diagnósticos errôneos de autismo, especialmente em
mulheres, porque suas características autísticas podem ser menos visíveis.
Sinais de Que Uma Mulher Autista Adulta Está
Mascarando
- Exaustão Social Aparente: Uma mulher autista que
está mascarando pode parecer exausta após interações sociais. Essa
exaustão não é apenas física, mas também emocional e mental, decorrente do
esforço de se ajustar constantemente às expectativas sociais.
- Mudanças na Linguagem
Corporal:
Preste atenção em mudanças súbitas na postura, no contato visual ou nos
padrões de fala. Quando mascarando, uma mulher autista pode forçar contato
visual ou adotar expressões faciais e gestos que não vêm naturalmente, o
que pode parecer forçado ou desconfortável.
- Respostas Excessivamente
Ensaiadas:
Quando uma mulher autista está mascarando, suas respostas em conversas
podem parecer excessivamente polidas ou ensaiadas. Ela pode usar frases
que aprendeu serem socialmente aceitáveis, em vez de expressar seus
verdadeiros sentimentos ou pensamentos.
- Evitação de Situações que
Exigem Vulnerabilidade: O mascaramento frequentemente envolve evitar
situações que poderiam expor suas características autistas. Ela pode
evitar pedir ajuda, expressar desconforto ou discordar, mesmo quando essas
ações seriam apropriadas.
- Dificuldades para Relaxar em
Ambientes Informais: Em um ambiente social mais descontraído,
como uma reunião de amigos próximos ou uma festa familiar, a mulher
autista pode continuar exibindo um comportamento socialmente “adequado” em
vez de relaxar, o que indica um mascaramento persistente.
- Perfeccionismo Social: Um desejo intenso de
evitar erros sociais pode ser um sinal de mascaramento. A mulher autista
pode se preocupar excessivamente com a forma como é percebida pelos outros
e fazer um esforço consciente para agir “corretamente” o tempo todo.
- Recuperação Lenta Após
Eventos Sociais: Se
sua filha parece precisar de um tempo de recuperação maior após eventos
sociais, ou se ela parece mais retraída e cansada depois de um período de
socialização, isso pode indicar que ela esteve mascarando e agora está
lidando com o desgaste.
Como Apoiar uma Mulher Autista que Está Mascarando
- Crie um Ambiente Seguro e
Acolhedor:
Assegure-se de que ela sinta que pode ser ela mesma sem medo de julgamento
ou repreensão. Encoraje a expressão de suas verdadeiras emoções e
pensamentos.
- Incentive o Autoconhecimento: Ajude sua filha a
reconhecer e entender suas próprias necessidades e limites. Encoraje
práticas de autoaceitação e a valorização de sua verdadeira identidade
autista.
- Respeite os Limites Dela: Quando perceber sinais de
esgotamento, respeite o espaço e o tempo que ela precisa para se
recuperar. Evite forçar interações sociais ou expectativas que possam ser
cansativas.
- Seja uma Aliada em Público e
em Particular:
Apoie-a em contextos sociais e ajude a aliviar a pressão social, seja
assumindo conversas, mudando de assunto ou ajudando a mediar interações
quando necessário.
- Busque Suporte Profissional: Considere trabalhar com
profissionais de saúde mental que tenham experiência com autismo em
mulheres. Eles podem oferecer estratégias personalizadas para lidar com o
mascaramento e suas consequências.
Reconhecer o mascaramento em mulheres autistas adultas é fundamental para oferecer um suporte adequado e ajudar a construir um ambiente no qual elas se sintam confortáveis sendo elas mesmas. Entender esses sinais e responder de maneira empática e informada pode ajudar a aliviar a pressão do mascaramento e promover um bem-estar emocional mais equilibrado e sustentável.
O que fazer quando um autista está em Shutdown?
Direcionamento Terapêutico para Ajudar Mulheres Autistas com Transtornos e Sobrecargas Emocionais
O apoio
terapêutico para mulheres autistas deve ser cuidadosamente adaptado às suas
necessidades individuais, especialmente quando se trata de lidar com
transtornos e sobrecargas emocionais. O autismo em mulheres frequentemente se
manifesta de maneira diferente do que em homens, o que significa que as
abordagens tradicionais podem não ser eficazes. Abaixo estão algumas diretrizes
que terapeutas podem seguir para ajudar mulheres autistas a gerenciar suas
emoções e evitar o esgotamento.
1. Compreensão e Validação das Experiências Únicas
- Validar suas Experiências: Reconheça que mascarar
emoções e características autistas é uma experiência comum que pode levar
a um cansaço emocional significativo.
- Ouvir Ativamente: Ofereça um espaço seguro
onde as mulheres possam falar abertamente sobre suas experiências sem medo
de julgamento.
2. Educação e Consciência sobre Sobrecargas
Sensoriais e Emocionais
Muitas
mulheres autistas experimentam sobrecargas sensoriais e emocionais que podem
desencadear meltdowns (explosões emocionais) ou shutdowns (fechamento
emocional). É importante que os terapeutas ajudem as pacientes a:
- Identificar Gatilhos: Trabalhar com elas para
identificar gatilhos sensoriais ou emocionais que causam sobrecarga.
- Criar Estratégias de Gestão: Desenvolver estratégias
específicas para lidar com esses gatilhos, como técnicas de respiração
profunda, pausas sensoriais, ou o uso de fones de ouvido com cancelamento
de ruído.
3. Desenvolvimento de Estratégias de Regulação
Emocional
A
regulação emocional é uma habilidade crítica que muitas mulheres autistas
precisam desenvolver para lidar com sobrecargas. Terapeutas podem:
- Ensinar Técnicas de Atenção
Plena (Mindfulness): Práticas como meditação, respiração
consciente e o uso de ancoragem sensorial (como segurar um objeto com
textura calmante) podem ajudar a reduzir a ansiedade e a aumentar a
consciência emocional.
- Introduzir Terapias
Cognitivo-Comportamentais (TCC): Abordagens de TCC podem ajudar a desafiar
pensamentos negativos e desenvolver formas mais saudáveis de responder a
situações estressantes.
4. Apoio na Expressão Autêntica de Emoções
- Incentivar a Autoaceitação: Trabalhar para aumentar a
aceitação de suas características autistas e de suas emoções, promovendo
um sentimento de valor próprio.
- Modelar e Praticar a
Expressão Emocional: Fornecer um ambiente seguro onde as pacientes
possam praticar a expressão de suas emoções de maneira saudável, seja
através da comunicação verbal ou de outras formas criativas.
5. Apoio para Construir Autodefesa e Estabelecer
Limites
Aprender
a estabelecer limites é crucial para evitar o esgotamento. O terapeuta deve:
- Ensinar a Autodefesa: Trabalhar com a paciente
para desenvolver habilidades de autodefesa, ensinando como dizer
"não" e como se comunicar assertivamente.
- Praticar Cenários de
Estabelecimento de Limites: Usar role-playing ou cenários simulados para
ajudar a paciente a praticar a comunicação de seus limites em diferentes
contextos.
6. Identificação de Recursos e Redes de Apoio
- Facilitar Grupos de Apoio: Conectar pacientes com
grupos de apoio ou comunidades online de outras mulheres autistas para
compartilhar experiências e estratégias.
- Fornecer Recursos
Educacionais: Oferecer
materiais educacionais sobre autismo em mulheres para que as pacientes e
suas famílias possam aprender mais sobre suas necessidades únicas.
7. Foco na Autoestima e na Construção de uma
Identidade Positiva
Muitas
mulheres autistas podem lutar com questões de autoestima devido a anos de
tentativas de se adequar às normas sociais. É importante que os terapeutas:
- Promovam o Autoconhecimento
Positivo:
Ajudar as pacientes a reconhecer suas forças e talentos, e como o autismo
faz parte de sua identidade de maneira positiva.
- Desenvolvam Habilidades de
Resiliência:
Ensinar técnicas para lidar com rejeição social ou desafios de comunicação
de maneira saudável, aumentando sua resiliência emocional.
O suporte terapêutico para mulheres autistas requer uma abordagem sensível e personalizada, que reconheça as nuances e particularidades de suas experiências. Ao focar em validação, educação, estratégias de regulação emocional, autoexpressão autêntica, estabelecimento de limites, e fortalecimento da autoestima, terapeutas podem ajudar suas pacientes a navegar suas vidas com mais confiança, resiliência e bem-estar emocional.
Role-playing (ou interpretação de papéis,
em português) é uma técnica usada em terapia e outras práticas de
desenvolvimento pessoal onde os participantes assumem papéis específicos em
cenários simulados. Essa técnica permite que as pessoas pratiquem habilidades
de comunicação, resolução de problemas, e manejo de situações desafiadoras em
um ambiente seguro e controlado.
Como Funciona o Role-Playing?
Durante
uma sessão de role-playing, o terapeuta e a paciente criam um cenário baseado em
uma situação da vida real que o cliente deseja explorar ou para a qual quer se
preparar. Cada pessoa assume um papel: a paciente pode desempenhar a si mesma ou
outra pessoa, enquanto o terapeuta ou um parceiro desempenha o papel de outra
pessoa envolvida na situação.
Por
exemplo, no contexto de terapia para uma mulher autista, o role-playing poderia
ser usado para:
- Praticar Estabelecimento de
Limites: O
cliente pode praticar como dizer "não" de maneira assertiva
quando alguém está fazendo uma exigência irracional ou invadindo seu
espaço pessoal.
- Ensaio de Conversas Difíceis: O cliente pode simular uma
conversa difícil, como pedir uma acomodação no trabalho ou explicar suas
necessidades sensoriais para amigos e familiares.
- Exploração de Respostas
Emocionais: O
cliente pode experimentar diferentes maneiras de expressar suas emoções em
uma situação de conflito, recebendo feedback imediato do terapeuta.
Benefícios do Role-Playing
- Construção de Confiança: Ao praticar diferentes
cenários, as autistas podem se sentir mais seguras e preparadas para lidar
com situações reais.
- Feedback Imediato: O terapeuta pode fornecer
feedback construtivo em tempo real, ajudando a paciente a ajustar suas
abordagens e técnicas.
- Desenvolvimento de
Habilidades Sociais: Para pessoas autistas, praticar habilidades
sociais em um ambiente controlado pode ser particularmente útil para melhorar
a comunicação e a assertividade.
- Redução de Ansiedade: Ao ensaiar situações
desafiadoras, as autistas podem reduzir a ansiedade associada a eventos
desconhecidos ou estressantes.
O role-playing é uma ferramenta terapêutica poderosa que pode ajudar mulheres autistas a desenvolver habilidades sociais, praticar o estabelecimento de limites e se preparar para situações emocionais desafiadoras. Com a prática regular em um ambiente seguro, elas podem ganhar confiança e habilidades para lidar com uma variedade de desafios no mundo real e diminuir as crises de meltdown e shutdown.
Comentários
Postar um comentário
Olá, deixe seu comentário ou sua sugestão, sua opinião é muito importante para nós!